segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

"VERMELHO BRASA. Ainda queimo". Exposição de Camila Moreira no MUnA.


 

Exposição "Vejo Flores em você", de Jane Côbo. Espaço ITV Cultural


 

Vejo flores em você

Jane Côbo

 

 Um diálogo vibrante de cores e sobreposições – Jane Côbo convida o olhar para a primavera inquieta de sua obra. Com uma produção que resgata o fazer artesanal, a artista se apropria da simbologia da flor como representação do feminino, evocando questionamentos e provocações que permeiam o seu fazer artístico.

No ritmo de cada obra, um ciclo: se faz a flor do feminino, da fertilidade, da maternidade. A exuberância cromática carrega estes símbolos que atravessam a experiência da artista, expondo a dialética da flor que nasce, floresce e poliniza; e das flores envasadas em composições que remetem à natureza morta – flores que eventualmente secam e murcham. Flor da vida e flor da morte. O efêmero que se solidifica na cadência da repetição em um transbordamento de cores e vida.

A beleza e vivacidade na obra de Côbo não se torna subterfúgio para suas inquietações sobre a mulher e seu espaço na sociedade – ao contrário, as denuncia. Cada composição é sensível ao provocar, seu processo criativo traz raízes que a conectam intrinsicamente aos fazeres criativos historicamente delegados às mulheres. O bordado, a costura, o stencil e gesso assim como a utilização das formas de doces, miçangas e moldes vazados dialogam de forma quase ancestral com a figura das bordadeiras, doceiras e costureiras, trazendo à luz a força de trabalho feminino em uma conversa que permeia o histórico e o contemporâneo.

            Ver – os floreios da artista abrem caminhos para contemplação; nos conecta com o fazer, do criar e do pensar na materialização da obra e, dessa forma, suas respostas às indagações de vida que lhe atravessam. O que se ausenta do figurativo humano na obra de Jane Côbo se faz presente em silhuetas: do corpo que se entrelaça à árvore e voa, em cada flor há matéria humana, matéria-mulher, que desabrocha no limiar do olhar.

 

 

Por Barbara Langoni