segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Exposição Processos em Diálogo
A criatividade é um processo assente em dinâmicas relacionais e numa espécie de equilíbrio entre a interiorização de estímulos, tidos como objectivos, e a exteriorização de uma subjectividade expressiva. Muito sinteticamente, o processo criativo é um modo dialógico de dádiva, pelo qual o artista oferece aos outros aquilo que recebe do mundo e que filtrou e reorganizou segundo as suas idiossincrasias, memórias, angústias, afectos e desejos. A novidade e a singularidade que sempre se associaram ao processo criativo não são mais do que um reformular de estratégias e de exemplos precedentes. Há muito que foram ultrapassadas as ideias de uma originalidade radical ou de uma genialidade isoladamente inspirada, em prol de uma visão mais relacional do processo criativo. A arte vive do diálogo com a vida e de uma certa auto-referencialidade constitutiva, abordando, muitas vezes criticamente, as suas próprias linguagens, valências e tradição histórica.
“Processos em Diálogo” é uma exposição colectiva organizada em torno da temática da criatividade e das dinâmicas impulsionadas pelos seus processos. Reunindo mais de uma dezena de artistas com linguagens plásticas, técnicas e suportes muito díspares, a mostra funciona como uma espécie de elogio à liberdade criativa.
Ainda que cada processo criativo espelhe a singularidade do seu autor, as obras convivem elas próprias segundo afinidades e complementaridades, sobretudo baseadas no modo como convocam certos sub-temas implícitos na tal concepção relacional da criatividade. Assim, o público desta exposição poderá encontrar abordagens plásticas que dão corpo à questão da articulação entre arte e vida, seja pela sua organicidade (note-se a obra de Camila Moreira e de Talita Trizoli), seja pelos tópicos da temporalidade, da memória e da finitude (por exemplo, nas fotos de Maria José Carvalho, nas experiências plásticas de Dayane Justino, de Aninha Duarte e de Afonso Lanna) ou pela questão identitária (presente nos retratos de Wilson Filho, em termos mais individuais, bem como nas obras de Flaviane Malaquias, de Sérgio Rodrigues e de Jane Côbo, em termos colectivos e culturais). A índole dialogal do processo criativo surge ainda aqui representada pelo cruzamento entre a linguagem artística e a matemática (veja-se o exemplo de Ana Paula Fernandes) e pela exploração auto-referencial de elementos plásticos como a cor (no caso de Alexandre França), que ilustram paradigmaticamente a capacidade de diálogo que a arte tem com sistemas externos e consigo mesma.
ANA RITA FERREIRA
Investigadora do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
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