segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As intervenções urbanas de Eduardo Srur

Eduardo Srur em performance do vídeo Supermercado
O paulistano Eduardo Srur começou na pintura, mas se destacou nas intervenções urbanas. Suas obras se utilizam do espaço público para chamar a atenção para questões ambientais e o cotidiano nas metrópoles, sempre com o objetivo de ampliar a presença da arte na sociedade e aproximá-la da vida das pessoas. A cidade é o seu laboratório de pesquisa para a prática de experiências artísticas; o público e os governos são o seu alvo. O conjunto de trabalhos de Srur serve como um guia para espaços mal administrados e para erros urbanísticos. Acima de tudo, são críticas conceituais que despertam a consciência e o olhar para uma nova estética e o entendimento das artes visuais. Realizou diversas intervenções urbanas na cidade de São Paulo e participou de exposições em muitos países, entre eles Cuba, França, Suiça, Espanha, Holanda, Inglaterra, Alemanha. O artista mora e trabalha em São Paulo.
entrevista do artista para o site IdeaFixa: http://www.ideafixa.com/bate-papo-ao-vivo-com-eduardo-srur/ ou http://www.youtube.com/watch?v=MpKOoZxkYnA site do artista: http://www.eduardosrur.com.br/#!home/mainPage

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ARISTÓTELES COM UM BUSTO DE HOMERO[1]

Como um jorro de seda (em pregas,
em dobras) a luz
se instala na tela, naquele
espaço que é treva
como todo espaço
onde a luz (o pincel
de Rembrandt) ainda não
chegou
e da treva emerge
o mundo: o rosto
as mãos a seda o mármore
do busto o metal
da corrente (negror e
ouro) coisas reais
tornadas
irreais e mais
reais porque vozes
imagens
dessa fala
humana
chamada pintura

na pele da tela
flameja
a luz
parada e veloz

como se
na parede do Metropolitan
Museum
de repente
abrissem uma janela
para
a maravilha.
      



Não é uma sensação apenas visual – é também tactil, de espessa (e fulgurante) materialidade: no ombro esquerdo da figura, que emerge da sombra, um dos pontos onde se dá a passagem, o conflito de luz e treva, a matéria pictórica é rugosa, ferida, quase desordem, como se ali, naquele momento, matéria e luz se transformassem uma na outra, sendo ainda si mesma e a outra, até verter-se em lava leve sobre as mangas da blusa. É uma cena banal – num escritório talvez – um homem e um busto de mármore – mas de fato trata-se de um acontecimento cósmico: a luz e a escuridão do espaço e dos corpos revelados na sua beleza para o espanto do olhar humano.


Legenda da foto:
Rembrandt, Aristóteles com um busto de Homero, 1653



[1] GULLAR,  Ferreira. Relâmpagos - dizer o ver. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, pp. 38 e 39



Proposição: Maria José de Carvalho
4 de novembro de 2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ação Educativa da exposição "Processos em Diálogo" - outubro de 2013.

Confiram algumas fotos das Ações Educativas promovidas pelo NUPPE a partir da exposição "Processos em Diálogo", coletiva do núcleo na Galeria Lourdes Saraiva, em Uberlândia, realizada no mês outubro de 2013. Responsáveis pela Ação Educativa: Flaviane Malaquias e Sérgio Rodrigues. 1) Grupo de jovens do Projeto "Portas Abertas" da Escola Sempre Viva;

Gombrich nos lembra que a arte é longa...

O site The Gombrich Archive reúne artigos, resenhas, obituários e entrevistas do historiador da arte Ernst Gombrich (Viena, 1909 - Londres, 2001). Trata-se de material publicado em diversos meios, mas que não consta nos livros do autor, publicados pela editora Phaidon.

No site, o leitor encontrará textos em inglês, espanhol, alemão e francês.

Dentre eles, há um interessante comentário, de apenas uma página, chamado Art is Long..., em que o autor faz breves considerações sobre a importância da tradição para a arte. Partindo de uma citação de Hipócrates, "A arte é longa, a vida é curta", Gombrich confessa sentir, às vezes, que os artistas fariam bem em se lembrar dessas palavras.

"Nenhum cientista", continua Gombrich, "precisa ser alertado de que qualquer progresso ao qual ele objetive deve ter como ponto de partida o presente estado do conhecimento. Os artistas algumas vezes parecem ter a esperança de que eles podem começar do zero e criar uma nova arte por meio de um salto da imaginação. Alguém pode admirar a inventividade, engenho e coragem de tais tentativas, e ainda assim ter a sensação de que essa nova arte permanecerá fadada ao fracasso precisamente porque ela carece da experiência e do amparo de uma tradição." 

O autor se apressa em explicar que isso não equivale à nostalgia pelos bons e velhos tempos. O que ele quer salientar é que nossas experiências estéticas, assim como as cognitivas, são inseparáveis de nossas expectativas. "Tanto a emoção da surpresa quanto a satisfação da familiaridade residem em nossos conhecimento, crença e experiência prévios." Seja lendo um artigo científico, assistindo a um jogo ou visitando uma exposição, "nós nunca podemos entender o que está acontecendo sem um mínimo de informação previamente adquirida."

Embora acredite que "Novas formas de arte certamente poderão surgir no futuro do mesmo modo como surgiram no passado", Gombrich afirma que, para isso, é preciso tempo. É preciso tempo para que os padrões se desenvolvam e a criatividade seja apreciada.

A fim de deixar isso mais claro, o autor termina citando o que escreveu na conclusão de seu livro The Sense of Order:

"Leva tempo para que um sistema de convenções se cristalize até o ponto em que cada sutil variação tenha importância. Talvez nós estaríamos mais aptos para alcançar uma nova linguagem da forma se nós estivéssemos menos obcecados com a novidade e a mudança. Se nós sobrecarregamos o sistema, nós perdemos o suporte de nosso senso de ordem." 


Comentário e tradução de
Wilson Filho Ribeiro de Almeida,
17 de outubro de 2013.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

2 imagens relembrando a surrealista Méret Oppenheim, que faria esta semana 100 anos.














Meret Oppenheim, Das Paar, 1956.













Meret Oppenheim, Breakfast in furs, 1936.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Exposição Processos em Diálogo


A criatividade é um processo assente em dinâmicas relacionais e numa espécie de equilíbrio entre a interiorização de estímulos, tidos como objectivos, e a exteriorização de uma subjectividade expressiva. Muito sinteticamente, o processo criativo é um modo dialógico de dádiva, pelo qual o artista oferece aos outros aquilo que recebe do mundo e que filtrou e reorganizou segundo as suas idiossincrasias, memórias, angústias, afectos e desejos. A novidade e a singularidade que sempre se associaram ao processo criativo não são mais do que um reformular de estratégias e de exemplos precedentes. Há muito que foram ultrapassadas as ideias de uma originalidade radical ou de uma genialidade isoladamente inspirada, em prol de uma visão mais relacional do processo criativo. A arte vive do diálogo com a vida e de uma certa auto-referencialidade constitutiva, abordando, muitas vezes criticamente, as suas próprias linguagens, valências e tradição histórica.

“Processos em Diálogo” é uma exposição colectiva organizada em torno da temática da criatividade e das dinâmicas impulsionadas pelos seus processos.  Reunindo mais de uma dezena de artistas com linguagens plásticas, técnicas e suportes muito díspares, a mostra funciona como uma espécie de elogio à liberdade criativa. 

Ainda que cada processo criativo espelhe a singularidade do seu autor, as obras convivem elas próprias segundo afinidades e complementaridades, sobretudo baseadas no modo como convocam certos sub-temas implícitos na tal concepção relacional da criatividade. Assim, o público desta exposição poderá encontrar abordagens plásticas que dão corpo à questão da articulação entre arte e vida, seja pela sua organicidade (note-se a obra de Camila Moreira e de Talita Trizoli), seja pelos tópicos da temporalidade, da memória e da finitude (por exemplo, nas fotos de Maria José Carvalho, nas experiências plásticas de Dayane Justino, de Aninha Duarte e de Afonso Lanna) ou pela questão identitária (presente nos retratos de Wilson Filho, em termos mais individuais, bem como nas obras de Flaviane Malaquias, de Sérgio Rodrigues e de Jane Côbo, em termos colectivos e culturais). A índole dialogal do processo criativo surge ainda aqui representada pelo cruzamento entre a linguagem artística e a matemática (veja-se o exemplo de Ana Paula Fernandes) e pela exploração auto-referencial de elementos plásticos como a cor (no caso de Alexandre França), que ilustram paradigmaticamente a capacidade de diálogo que a arte tem com sistemas externos e consigo mesma. 

ANA RITA FERREIRA
Investigadora do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Exposição #04 - Camila Moreira e Dayane Justino




Exposição #04 NUPPE - espaço ITV.

01 de julho a 01 de agosto de 2013


ITV Empreendimentos Imobiliários

Av. Getúlio Vargas, 869

Uberlândia-MG



Camila Moreira, Barceloneta. Fotografia, 2013.

Dayane Justino, Tessellas. Limalha de ferro e cimento s/ madeira, 2006-2013.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

"ImaRgens Urbanas", livro de Juliana Schroden e Wilson Filho



O livro ImaRgens Urbanas foi publicado em 2011 pela PROEX-UFU, a partir do Edital de Incentivo à Produção Cultural da Diretoria de Cultura da Universidade Federal de Uberlândia. A obra reúne poesias de Juliana Schroden e desenhos de Wilson Filho, e traz, como tema central, aspectos do cotidiano da cidade.

Poemas e desenhos partiram principalmente da observação de cenas e personagens que transitam pelas ruas de Uberlândia, abarcando episódios tristes, ternos, cômicos e curiosos. As poesias trabalham com jogos de palavras, com as sonoridades do ritmo e das rimas, com as metáforas e figuras. Conforme notou Elaine Cristina Cintra no prefácio do livro, “Os poemas dimensionam uma subjetividade delicada e intensa, que remete a determinados jogos metalinguísticos como se descobrisse a poesia no ato de com ela se entreter [...].”

Os desenhos, dos quais alguns podem ser considerados também como pinturas, foram elaborados com os pretos do grafite e da tinta nanquim e com as cores do lápis aquarelado, do pastel e da tinta guache. Tais imagens estabelecem um diálogo com os poemas, de modo que, ao aparecerem lado a lado nas páginas, ambos se enriquecem. Esse diálogo entre a literatura e as artes plásticas marca os 21 pares de poesias e desenhos presentes no livro ImaRgens Urbanas.

Veja informações sobre como adquirir o livro aqui.


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ação Educativa do NUPPE: palestra e oficina no PRESP Uberlândia.

O NUPPE, em seu estatuto, prevê a realização de ações educativas como um meio de promover o diálogo entre o núcleo, suas pesquisas e estudos, e a comunidade como um todo.
A convite do PRESP (Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional – Uberlândia), Jane Côbo e Sérgio Rodrigues executaram com usuários e técnicos sociais do programa uma palestra / oficina com o tema “Olhares da Pintura sobre gênero feminino”. Esta ação consistiu para muitos, em uma experiência inicial de contato com a arte como objeto de leitura e reflexão.
Relatando sumariamente a experiência, apresentamos reproduções de imagens de diversos pintores desde o Renascimento até a modernidade (Leonardo da Vinci, Botticelli, Vermeer, Gauguim, Schiele, Picasso, entre outros), em que a representação feminina poderia revelar o olhar masculino sobre este corpo (idealizado, sacralizado, sensualizado, erotizado, socialmente limitado...) que foram desencadeadoras de exercícios de leituras dessas imagens fundamentadoras da nossa abordagem.
Posteriormente, apresentamos a produção de Frida Kahlo sob o olhar da pesquisa de Susana de Lima (graduada em Artes Visuais pela UFU), e fotografias do trabalho “Mulheres Apagadas” de Cíntia Urias, igualmente resultado de sua pesquisa de graduação em Artes Visuais pela UFU, como exemplares do olhar de mulheres artistas sobre seu próprio gênero, revelador de aspectos mais subjetivos da condição feminina.
Plasticamente, propusemos a produção de uma composição por meio de colagens em um painel coletivo, a partir da temática “Olhar sobre a Mulher Contemporânea”. Os participantes deveriam selecionar imagens de mulheres, em revistas e outros impressos, e inseri-las no painel associadas a adjetivos que as caracterizassem.
Foi extremamente agradável perceber o interesse dos participantes, não só pelo assunto apresentado no encontro, mas no despertar de um olhar mais ampliado e menos distante para a arte.
Agradecemos o espaço oferecido pelo PRESP, em suas integrantes Natália Palazzo, Natália Galdiano e equipe.
 
Sérgio Rodrigues e Jane Côbo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Testamento

TESTAMENTO

de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1993)

Eu lego aos meus amigos

Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Mathematical Object

Continuo buscando referências que estabelecem conexão entre artes visuais e matemática. Como nos exemplos mostrados aqui, de forma explícita como visto na geometria do objeto de Man Ray, ou, especialmente, como no trabalho contemporâneo de Enzo Henze.


Enzo Henze knows there are patterns and beauty in the chaotic disarray of curving lines. Using software to plot mathematical data, the Berlin-based artist generates hundreds of thousands of detailed arcs, which he enlarges and mounts on giant gallery installations. The large-scale pieces are infinitely subtle, and feature tiny threads that wrap and weave like a map of brain neurons or a guide to an extra dimensional galaxy. [via newblack]
fonte: http://designcrave.com/2009-05-08/mathematic-art-of-enzo-henze/

DER WIRKLICHKEITSSCHAUM
01/2007
(The Reality Foam)
Mural consisting of 288 A3 color laser prints. 9,47 m x 3,45 m.




Man Ray, Mathematical Object, 1936

início das atividades do Blog!

Todos os participantes do NUPPE receberam o convite para contribuir com esse blog.
Cada de um de nós poderá postar assuntos preferencialmente dentro de nossas linhas pesquisas.

Boa postagens!
Ana Paula

quarta-feira, 6 de março de 2013

PAISAGENS FECUNDAS


PAISAGENS FECUNDAS
Por Aninha Duarte

A aquarela talvez seja uma das mais poéticas linguagens artísticas.
Manchas que buscam formas - Formas que buscam manchas.
Grafismos direcionados - Grafismos libertos
Desenhos pintados - Pinturas desenhadas
Desenhos inacabados - Pinturas Finalizadas
Cores finitas - Cores infinitas
Transparências espelhadas - Transparências iluminadas

Vegetações - segredos escondidos na diversidade da natureza  
Águas - espelhos, vidros, silenciosas, bravias. Ficam, passam e vão.
Céus - presentes para  Ender, Tuner e Constable.
É assim que recebemos as pitorescas paisagens-aquarelas de Mário Zavagli.










Pintor, desenhista e gravador, Mário Zavagli é professor adjunto da área de pintura da Escola de Belas Artes , da Universidade Federal de Minas Gerais, desde 1978.  Realizou 31 exposições individuais e participou de mais de duas centenas de mostras coletivas, obtendo 15 prêmios em diversos salões de arte, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Sergipe, Goiás e Distrito Federal, no Brasil; e também na Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal, Grécia, França, Romênia e Bulgária. Vive e trabalha  em Belo Horizonte.

Para finalizar esta seção, digo que as Aquarelas de Mário Zavagli são marcadas por  extrema sensibilidade, concentração e conhecimento expressados por meio de traços requintados  e manchados com extraordinária habilidade. Os embates da técnica visivelmente já foram há tempos suplantados e a poética reina livre em  suas imagens.